Saudades...
Em 2012 ainda não abri nenhuma postagem, asseguro que não foi por falta de inspirações, aliás, tenho uns postes prontos bem interessantes para publicar.
"Estou mais lenta do que burro na ladeira, atropelado pela
“cangaia” que desce na banguela.(ao sotaque nordestino com orgulho)"
Israel tem se mostrado indagativo (curioso), requer explicação
da funcionalidade de tudo ao seu redor. O mais intrigante é que na sua
inabalável opinião, estou no patamar das mais inteligentes mães (Ele mais a
frente descobrirá que não é bem assim....risos)
Por enquanto, vou respondendo o que convém, e me esforçando no
dialeto, confesso que às vezes, sinto enfado dos discursos quanto aos temas da
física, química, geografia, esporte, passado, corpo humano, alimentação,
sexualidade, religião, curiosidades, eletrônica, tecnologia, etc...Ah! Mecânica
também. (este último não me sai muito bem)
O tema tempos passados, numa ocasião tentando distraí-lo, não
imaginei que minha declaração seria bombástica: - Israel, lá na minha casa não
tinha televisão, quando eu era criança.
- Isso é inacreditável! (Espantado exclamou)
Não era para provocar alvoroços, queria fazer um encontro dos
tempos (o meu e o dele) e suas oportunidades, sem tom de chantagens emocionais.
Infelizmente provoquei mais curiosidade, e ficou desejoso em
querer saber como eram as minhas ações criativas para burlar o tempo.
Surgiu tão-logo, uma conversa basilar para ele, ao ouvir minhas
lembranças do cofre bem trancado, e abri o cofre com a combinação certa que é confiança,
crença e lealdade.
Mais uma vez afirmei que não tínhamos uma televisão e que a
nossa rua não era saneada, poucas casas construídas na época, a dita cuja nos
anos 80 – numa cidade do interior do sertão pernambucano era inusitado possuir.
As pessoas menos privilegiadas contavam com a arquitetura das
praças públicas que em seu desenho estrutural existia uma enorme caixa com esse
equipamento curioso para entretenimento da comunidade.
Considerávamos notáveis, pois, morávamos numa rua que alguém
a possuía, e ao cair da noite as famílias se reuniam para assistirem toda
aquela novidade em preto e branco. Uma televisão era o sonho de consumo. O meu
primeiro contato com uma colorida foi na casa da minha avó em outra cidade.
Até que minha mãe comprou uma televisão que demorava ligar, era
colossal e ocupava quase a sala toda, fazia estalos quando trocávamos o canal;
de segunda mão que para nós não importava, triste foi o dia em que pegou fogo
de tanto ligarmos.
Tenho que admitir - fui mesmo uma criança curiosa, lembro da
naturalidade preferencial do gosto da meninada pela televisão, mas o meu
fascínio era o RÁDIO. Qual criança gostava de rádio? Descobri que minha apreciação
era pela liberdade no fluir dos meus pensamentos.
Inerente a penúria, também na minha casa não tinha rádio. Confissão
cruel? Não exatamente – respondo. Foram nas ausências que muito conquistei e
desde cedo aprendi a valorizar cada passo na conquista, na força do trabalho.
Incomum fazer filas nas portas das casas e/ou fazer rodas para
ouvir ao rádio, isso dificultava ainda mais ao meu acesso. Com destreza
descobri a chegada das ondas sonoras vindas da casa da vizinha, e prontamente
colocava o meu ouvido na parede para escutar o seu rádio.
O encontro impreterível era às 16hs, para ouvir um programa que
se chamava MINHA HISTÓRIA E MINHA CANÇÃO, apresentada pelo locutor chamado
DANIEL DANTAS; recordo a vinheta com assobios. A história era narrada e em
seguida tocava a música, enquanto minha mente criava todos os detalhes do outro
lado da parede. Não economizava esforços para todos os dias ouvir o meu
programa favorito. (estou rindo agora por lembrar quando o plano não dava certo
– vizinha viajando ou quando mudava a estação.).
Israel observava os detalhes da minha história, sorriamos em
algum ponto, e quiçá criando em sua mente os cenários que tentei desenhar.
Concluindo:
Espero que um dia o Israel saiba que passados os anos... muitos
anos... Afastei os meus ouvidos da parede da casa da vizinha e numa guinada na fase
adulta, passei a trabalhar na empresa que mais me fascinava com Execuções de Ondas
Moduladas e sua filial, fui responsável diretamente
por participar da estrutura operacional de outra filial.
Aprendi que o quê separa uma pessoa de um sonho é apenas uma
parede que se transpõe a qualquer tempo.
O Daniel Dantas não imaginava que aquela mulher de semblante
sério, entrava tantas vezes na empresa de comunicação, já foi uma menina de 6 anos
que colava o ouvido numa parede para ouvir ao seu programa, e que seus aplausos
era por ele ser o melhor contador de história da sua vida.
Desejo marcar esse poster com essa canção: